A (des)construção
À quase-amiga
Ei quase-amiga, se teu amigo por completo fosse
Contaria segredos repletos da gente
Então ouça comigo, como se eu confessasse
As coisas inteiras nas meias-verdades
Pois sei que revelando em parte
Com este teu jeito cético de sonhar
Descobrirá o meio-segredo
Em sua totalidade, como se assim fossemos
Amigos por completo
(Te desconstruo a cada palavra tua)
Tens o dom, quase-amiga
Ainda que insista em não acreditar
De ver a parte inexistente do arco-íris
Com teus olhos de prisma
(Me desconstruo a cada palavra tua)
Quando uma vez mais estivermos
Esperando algum ônibus passar
Com a vontade tal de levantar
E correr antes dele, ou melhor,
Viver antes dele!
Calado ao seu lado falarei
Numa quase-voz:
(A cada palavra nossa não somos os mesmos)
“O passado, agora movediço, foi bom viver”,
Para entender, e sei que entendes, por inteiro
“Que não se vive apenas uma vez”
(Nada mais é como antes de cada palavra tua)
“Estou gostando de você”, articulo
Para entender ainda que fale
Neste teu lindo sorriso desacreditado
Senta que isso passa, que
Nem tudo o que o tempo faça
Apaga a quase-chama dissimulada ou ausente
Que para não morrer se faz
Quase de que meio-inexistente
(Onde estivemos a cada palavra nossa?)
Sem sono na madrugada da vida
Pensemos na idade, mas não demos peso a ela
Maturidade é uma invenção infantil
Da infância morta pelo mundo
(Mas que construção faço a cada palavra tua?)
Contaria-te tudo isso
Para ao menos quase entender
O que quer dizer ao me perguntar
Neste falso tom casual:
Não pretendes, por enquanto morrer?
(O que faz de ti cada palavra tua?)
Digo não, por não saber responder ao certo
Afinal quantas vezes já estivemos nós
Vivos ou mortos nestes anos?!
Enfim, curioso quase te pergunto
Para você responder a ti mesma
Não se pretendes agora morrer
Mas até quando vamos indiferentes
Esnobar a vã morte e nunca temer morrer
Mas sim algum dia tarde descobrir a inteira verdade
Que vivemos uma vida pela metade,
E pior irá ser se o último suspiro for
“morri; com este quase viver que não arrisquei
descobri que não vivi”
(O que faz de mim cada construção tua?)
Eterna quase-amiga quero agora antes
Do porvir da nossa aurora que entendas
O que há nesta “altruísta” busca maior
Pela tua felicidade é a independência
A dois que ficou em algum lugar esquecido
Já ouviu falar que “somos um, mas não os mesmo?”
(para onde irá a construção de cada palavra tua?)
Mas não quase-amiga, isto tudo que falaria
Fica preso em mim como a poesia
De uma carta redigida, mas nunca enviada
(Contudo já não existíamos antes das palavras nossas ditas?)
Então do lugar onde estou apenas te vejo chegar tarde
Com teu jeito leve de ser e desejar-me:
“- Bom Dia!”
(Então façamos cada palavra tua)
Pois sabemos agora de certa forma difusa
Que não fomos apenas amigos
E dos quese-amigos que outrora fomos ou somos
já não sei.
(Agora vejo o que desconstruiu cada olhar teu
No silêncio meu; a planta desta construção
Há muito já se perdeu)
Gladson Fabiano
15 de Dezembro de 2008
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Você acha isso mesmo?! Hum... interessante XD