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BLOG NÃO EM TESTE... "A CADA DIA QUE VIVO MAIS ME CONVENÇO DE QUE O DESPERDÍCIO DA VIDA ESTÁ NO AMOR QUE NÃO DAMOS, NAS FORÇAS QUE NÃO USAMOS,NA PRUDÊNCIA EGOÍSTA QUE NADA ARRISCA, E QUE, ESQUIVANDO-SE DO SOFRIMENTO, PERDEMOS TAMBÉM A NOSSA FELICIDADE." (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)



COMPLEXO DE ÁLVARO

Cheguei ao ponto de conhecer-me tão bem que digo apaixono-me só quando quero; afirmo conhecer-me tão bem que conheço o outro, pois o outro que delatamos com tanta acuidade é senão nós mesmos – como todo  conselho que ousamos dar: apenas espelho que se recicla; cheguei  a tal conhecimento que sinto orgulho, medo e pena de mim mesmo. Tornei-me tão senhor de mim mesmo ao ponto de ferir o outro idoneamente, para lhe fazer bem maior; Ser consciente e entreter. Ser consciente e manipular, e machucar o outro por achar que te pagava dívidas, enquanto ninguém te deve nada!  Enfim, machucar por não saber sofrer. Tanta autoconsciência passei a possuir, que me escaparam as fendas, onde perpassa sorrateira a vida, o não dito, o silêncio e o mistério, que é penumbra. Estive tão consciente da minha consciência que foi impossível olvidar, quando tudo, não o que queria, mas o que precisava, era esquecer.
Fosse contar a história desse sabichão, começaria assim: Era uma vez um homem, dono absoluto de todos seus sentimentos... que certo dia conheceu uma Carmen, de véus e olhares que muito lembravam certa ópera...

Fabiano de Andrade
26 de junho de 2012




 OÁSIS

Perdoe-me Deus, fizeste-me homem e sabias que eu era fraco. De tantas faces que é do homem há sempre um vértice onde todas elas se tocam: é um esforço sobre-humano manter-se acreditando, manter-se fiel a si mesmo. Somos tão propensos às efusões, derramamentos que nos arrebatam e arrematam, efusões de luz e de sombras, torrentes de vida e de morte que nos vêm diariamente. Manter-se constante as ondas é sermos mais emperdenidos do que as rochas, e nos anos, nem as encostas permanecem intactas. Sou homem, não sou Deus, nem defunto, meu coração ressoa diante de sinfonias por que passo. Nos anos nada, nada se provou tão forte quanto o poder no acreditar; é tão fácil abismar-se, tantos são os socos, bocas e olhares, contrários que nos desejam terrivelmente céticos, brutalmente cínicos, mortalmente insensíveis e desacreditados, amedrontados pela falta de fé, onde nada se afirma nem se nega, só se duvida...
Neste eterno movimento de crença e descrença é sempre preciso reerguer-se, e tanta coisa pode ser o ponto de apoio, há sempre, sempre uma mão estendida a ser descoberta ou inventada. Inúmeras vezes já voltei a olhar para cima, submergir como quem sai de um mergulho profundo onde quase se afogou e busca um infinito fôlego, todo o ar do mundo para tão pequenos pulmões. Os amigos são uma forma de tocar o divino; Hoje, em dias cinzas, encontro outra mão, outra razão a ressuscitar e fortaleço  meus outros motivos. Poderia citar alguns amigos, que talvez nem saibam que o são, mas gosto de fazer tesouros particulares, únicos, - ilhas só nossas, como minha mania de renomear cada um. E este pertence à pessoa que me falou em SMS: 

“Tava lendo “EM MEUS HÁ MARES” Lembra? É muito perfeito! Sempre que leio fico pensando com a certeza que perfeição existe, é sério! Bjo! Com saudade! :)”

Provavelmente essa pessoa falará entre dentes: DISgraçado, publicou meu SMS” e depois, com voz de guria chorona “aiii que vergonha”. Suzanne Guimarães, apesar de ser a pessoa que nunca concorda comigo “onde o poema deve acabar” e sempre relutar em dá opiniões “por não entender nada disso tecnicamente”, é alguém que acredito profundamente na intuição natural e sensibilidade que se expressa em exasperações, gestos de mãos e faces. Ao fim percebo que tudo funciona de modo simples: é  acreditando nas miragens, nossas ou alheias, que ao fim nos pegaremos corados e nadando em piscinas naturais de nossos oásis. Amigos são aquelas pessoas que fazem nossas loucuras fazerem todo sentido; e em verdade digo, dou razão a cada louco, e vice-versa...
 
Fabiano de Andrade
23 de Maio de 2012


SOFISMAR

Não querida, não posso ficar admirado
Com o lindo resultado deste brincar...
Já que findo, digo: os dados do cupido são viciados.

Mas espantado - Sim! - fico com o teu proceder.
Que escola é essa onde aprendeste tão bem
Que deves afastar-se de tudo o que é profundo?!

Quão fecundo foi o entreter de teu mundo:
O ir e vir da mesma moeda,
Euforia e alegria
Vivaz, ser tudo, viver tudo!
Voraz, devorar a paz.
Doses letais, aliás, desiguais...
Liberdade torrencial, pervicaz.
O que se quis devorar?
Manuais:
Cais.
Beirais.
Divinais!
(fugaz; fatais, Ineficazbanais)
Trás e zás!...
...Funerais...

Nos teus maiores funerais estavas cantando.
E o defunto, insepulto, não chorava, não ria, não sentia
Pois nada sabia, nem mesmo que morria!

Mas veja que ironia: querendo nada conquistar,
Por medo de perder
(E lembrar-se por demais do já perdido uma vez)
 fugistes de mergulhos,
Covardemente
E virastes uma afortunada!
Em teu preencher com superfícies vorazes
  – vazias
Nada mais podes perder.
Pois já não tens tua melhor, maior e única posse.

Nadaste em superfícies, e em superfícies afogaste.
Perdeu-se a deriva, nadando na superfície do mar.
Eia esquiva, superfície é face! que tu não tens mais.




Fabiano de Andrade
24 de abril de 2012



SÍNDROME DE BARTLEBY OU POEMA DA DESPEDIDA


O jovem poeta que vivia a perguntar

O parecer alheio sobre os versos seus

Sentenciou-se espantado ao se revelar


Que o maior, melhor: crítico mais severo.

Único a dar ouvidos, abraços e versos

É senão ele mesmo: sereno e sincero!


Então, de tão olímpica ciência poética

A pena esqueceu, nunca mais escreveu!

Dizia com sorriso sério: é questão de ética!


Aspiro uma poética tão majestosa

Como aspira feroz a Vida um suicida:

Na inaptidão vergonhosa, adeus glosa!

Na inexatidão perniciosa, adeus vida!


Ah noção de poesia, porque tão grandiosa?!

Como é a noção de vida para o suicida!

Enfim, interrompeu para sempre o escrever

Como aquele eternamente deixou o não viver!

Fabiano de Andrade

19 de março de 12

COMO MOVER UMA MONTANHA


"Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar."

—Wittgenstein.


Passei horas tentando escrever uma linha sobre eu e você, algo que encaixasse as palavras - e ideias – prudência e amor. Ao fim, o Amor provou-se tão impregnado e tácito, que não descolou centelha alguma em palavra; retenção lírica que não se confunde com inexpressão: conhece o silencioso olhar enamorado? Ou as ações que dizem, que gritam, eu te amo?! Silêncios e ações, os quais só os que têm a chave - olhos para ver, ouvidos para ouvir – que reconhecem. Todo coração empedernido é cego, farpado por dor e receio. E a maior prudência de todas, foi-me o papel que se exigiu branco. Branco de tão puro, ou talvez branco de medo, que por vezes tem a furta-cor da prudência. Deus nos conceda o tão raro dom de discernir cores que nos furtam...

Fabiano de Andrade

21 de fevereiro de 2012


IRONIAS DAS IRONIAS


A Ironia é arma devastadora, lares que poderiam se aquecer com a energia nuclear de uma infantaria. Certo dia enojou-me a ironia - o cinismo que corrói a claridade do peito aberto. Foi quando o humour servil ao algoz dos que se arrogaram por terem uma pedra em mãos e saber como usá-la, e não como elevação de um estado ou de uma ótica. Desgraça dos altivos, fazem dos ombros dos irmãos sua escada. A indiferença é a lei do ironista inveterado; a afetação, sua pena. Não se ama, sinceramente não se ama: ah como não te odeio... Piedade: importo-me tanto com você quanto o mundo... Ironia: quando um ato vira seu oposto, pretensiosamente desejando ser o mesmo ato, porém com maior energia, algo sempre se perde, uma essência escorre de seu negativo. Perde-se no subtendido, talvez não o sentido em si – que é tendencioso - mas o dar-se a cara à sinceridade, a vivacidade de ser puro, de ser inocente, de se ser e só; e não pensar por demais nas conseqüências, em como podemos deste modo nos ferir, sermos frágeis, pois ao passo destes pensamentos, nos abrigamos em um anestésico asilo: e quem nota que a ironia, por vezes é mais defesa que próprio ataque?! Grande peito, finíssima imensidão. Deste modo, a ironia torna-se um maldito verme que destrói a integridade. Assim, se pode ferir, sangrar, matar! pelo simples receio bruto de morrer. Não é cada vida feita de várias mortes em si? Ah morre-se muito para poder-se viver. Mas todos fogem – proteção, manutenção, conservação, covardia –, bem aventurado os que sabem morrer, pois esses estão condenados à vida. Perdão, novamente ironia...


Fabiano de Andrade

05 de Fevereiro de 2012

ABSOLVIÇÃO


Nesse momento em que você veio com uma formidável pedra em mãos, e, do peito transbordando intenções perniciosas, abruptamente engoliu o fel que subia à garganta, pois o outro, de quem esperava reação tão feroz quanto, foi doce, amável e sereno. Aprendi assim, que às vezes a melhor resposta para um grito não é um eco, mas sim um abraço.

Fabiano de Andrade

27 de janeiro de 2012

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