nAdA AindA

BLOG NÃO EM TESTE... "A CADA DIA QUE VIVO MAIS ME CONVENÇO DE QUE O DESPERDÍCIO DA VIDA ESTÁ NO AMOR QUE NÃO DAMOS, NAS FORÇAS QUE NÃO USAMOS,NA PRUDÊNCIA EGOÍSTA QUE NADA ARRISCA, E QUE, ESQUIVANDO-SE DO SOFRIMENTO, PERDEMOS TAMBÉM A NOSSA FELICIDADE." (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)



HOJE NÃO TEM POESIA

“Nu. 1. Privado de vestuário; despido, desnudo. 2. Sem cobertura; exposto, descoberto.”

Se o nAdA AindA tem algo que não seja um eterno gerúndio, um movimento do infinito inacabado, enfim, algo que não seja um devir, é seu vestuário. Não importa qual roupa - mesmo uma simples gravata ou um sobretudo, que, sobretudo, me faz pensar ser tão protegido do frio analítico do leitor - sempre houve uma fixação pela ficção do eu. Como é bom sentar ao fundo da sala de projeção, e imaginar-se escondido da luz que vai à tela. Os que disseram se ver por aqui, se enganaram; cada linha e todas não é ninguém senão eu. Mas cansei de alegorias, às vezes é um fardo – inevitável – ter que procurar coisas diversas e alheias para adentrar profundamente na essência de outras. Então, hoje decidi por motivos que desconheço ou ignoro, ou ainda, motivos que temo admitir, deixar as roupas em casa. Minha mãe sempre me avisou para não “pegar” muito sereno, pois poderia fazer-me mal. Mãe, vejo que não adiantou suas advertências, talvez eu tenha pegado durante as noite do mundo tanto e tanto sereno, que minha serenidade, ao menos agora, faz esquecer o ego, a vaidade, o rancor, a ira, a melancolia e tudo de tão humano que nos faz tão mesquinhos quanto apaixonados. É uma lágrima agora que vem ao mundo; não lágrima de tristeza, nem de alegria: tal umidade em meu rosto não me faz sentir nem um nem outro. Este orvalho que vem aos olhos tem a placidez matutina. Uma serenidade que não deixa nem mesmo a poesia colar em mim, ao menos não a poesia das palavras – as das coisas estará sempre silenciosa aqui. Eis a serenidade do orvalho:
Ando por aí me vendo em espelhos que mostram os outros. Vejo que nos sentimos tristes e achamos que ninguém entende nossa dor, e que quando falam “Sim, te entendo” rimos por dentro, pois o outro não tem régua, e nunca terá, para medir o tamanho interno dos nossos sentimentos. Aprendi olhando este espelho que talvez nenhum sentimento seja tão universal quanto a solidão, mas sei que ninguém nunca é mais solitário que a gente. Ali, neste mesmo espelho, se reflete o quão mesquinhos somos, o quão nos irritamos por coisas pequenas, fúteis, vãs... Amamos posar na frente desse espelho com nossas imagens vestidas de incompreensão, de sensibilidade superior que ninguém alcança. Mas na frente desse mesmo espelho, gritamos que fazemos tudo isso como protesto, pois queremos ser compreendidos! Não meu amigo, diz a poesia interior, não, não queres ser compreendido, jamais! Adoramos vitimarmos, amamos nos achar perdidos na “confusão que é o mundo” – sim, sempre o mundo que é confuso –, veneramos sermos fortes e sermos frágeis, idolatramos sermos os únicos que verdadeiramente choram ao se importar assim como os únicos que, por conveniência, fingem rir e ninguém perceber. Matamos em nome de sermos os únicos a sermos únicos. Mas odiamos estar só. Este sou eu, este e você, mas por vaidade – que tudo é - talvez seja ninguém.
Mas o vento frio, dono de si, vem da janela da madrugada e me traz um cachecol que diz:

PASSA NUVEM, PASSA!

Meu bem, desculpe perguntar
Isto que goteja dos teus olhos
Seriam lágrimas ou orvalhos?

Nada; coisas está a imaginar
Não vê que aqui só chuvisca?!
É só uma nuvem que belisca...

E logo cai a forte tempestade
Mas no bolso de trás um lencinho
Enxuto da cor vinho-vaidade!


Gladson Fabiano
1 Abril de 2010

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