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SÓ AMANHÃ

Estava eu e meus taciturnos pensamentos num efusivo diálogo sobre a vida – essas conversas tidas à cabeceira da cama ao nos deitarmos – quando chegamos, o que é raro acontecer, na mesma conclusão: O homem é cheio de trivialidades é se aborrece tão facilmente, e uma vez que se aborrece demora a voltar à paz anterior e muitas vezes não volta, bate o pé e diz-se “tenho personalidade” quando sabe que na verdade tem orgulho nocivo e perdoa pouco (até a si mesmo), e tudo mais que o torna tão seguro de si em se importar tanto com tanta coisa fútil e trivial pelo único motivo de se acreditar viver para sempre. Protelações cheias de infinitas e ínfimas protelações... Não venha discordar de nossa conclusão, pois, aceite ou não, falamos “Te vejo na segunda”, por que sempre acreditamos não ser hoje o último dia. Tudo isso muito me lembra um médico que certa vez errou o laudo e dera apenas mais um dia e vida ao seu paciente. No término do outro dia, quando o médico comunicou o lamentável erro, o paciente irritadíssimo vociferou: “Vou te processar! Você tirou o único motivo de minha vida: meu último dia”.

Gladson Fabiano

11 de fevereiro de 2010