Sobre ser Fernando Pessoa
Não amigo, ao escrever nunca pensei em ser Fernando
Fulano, Cicrano, ou Pessoa algum, ainda porque, nunca seria ele
Nem ele mesmo cumpriu a missão de sê-lo, ao menos apenas ele
Ou não sabe do camponês Caeiro e de seus discípulos;
O rebelde Reis e o angustiado Campos?
Sendo trânsfuga de si o Pessoa porque motivo haveria eu querer sê-lo?
Querer ser Pessoa é vão, apensar dele ser poeta, já se foi!
Silencio! Não choremos à morte do poeta.
E deixemos desse preciosismo piegas
Sobretudo porque quem morreu foi o poeta e não a poesia.
E não há vantagem em repetir um poeta, meu amigo, apesar de
Todos estarmos fadados a repetir assim mesmo.
Sim! Repetir! Duvidas das coleções de mesmices do mundo?
Mas como são belas as mesmas coisas a cada dia.
Ou acredita mesmo que o mundo onde tudo vale à pena
É tão diferente do vasto mundo do Raimundo?
Ou será que somente no coração português
O amor arde sem se ver?
Não meu caro amigo é inútil ser O poeta.
Mas encontro talvez o porquê do teu desprezo
Em dizer que não sou nem nunca serei Pessoa alguma
Se encontrou no meu escrever algo que te lembrou o Fernando
Culpe o mundo e não a mim que nos impôs a mesma matéria
Ou se queres dizer que viste algo que lembre o talento dO Poeta.
Digo somente obrigado.
Alguns falam que nossa missão não é imitar, mas recriar, inovar
Polir o velho, ou quem sabe destruir e reconstruir o novo
Bom, não sei ainda qual é a minha ou qual era a de Fernando Pessoa
Nada ainda sei por enquanto, nem enquanto via durar o enquanto
Mas acredito que minha missão algo tem a ver com o que vivo a fazer
Escrevo apago reescrevo dobro e guardo sem saber se alguém irá um dia ler
Mas na verdade nem penso se irão ler, apenas escrevo e pronto
Como uma necessária birra infantil.
O mundo é o mundo, e eu não sou Pessoa.
Mas é muito jovem para saber disso tudo amigo poeta,
E saiba que muito me preocupo contigo,
Escuta-me antes que se enfade de viver:
Há um sol apenas, e uma lua sobre nós
Mas não fique a comparar e dizer que todos os dias são iguais
Ou que todas as auroras e crepúsculos são os mesmos.
Vejo que agora cometi um elogio inconsciente
Perdão pela modéstia do equívoco,
Também não sou aurora ou crepúsculo
Mas se enfim amar a mesma mulher a vida toda
E no fim ela nunca ser a mesma, foste feliz e amou,
E foi poeta, pois o redescobrir é poesia.
Ai então volte e conversaremos sobre quem quero ser...
Gladson Fabiano
29 de junho de 2008