SEUS
OLHOS
- Ela sabe de tudo,
não preciso falar... Não fará diferença eu falar.
Então os dois amigos,
sentados no banco da praça, um sem olhar para o outro, ficaram fitando a paisagem
em volta. O horizonte não era tão infinito quanto a praça em sua frente; na
verdade qualquer praça é sempre um horizonte de outro horizonte...
- Não fará diferença
você falar... - sussurrou o outro degustando a conveniência – Já que é assim vou
te pedir um favor.
Nada respondeu,
apenas tirou os olhos da praça e ficou olhando o amigo a explanar...
- Nós crescemos aqui,
viemos aqui com frequência. Podemos dizer que somos igualmente cumplices desse
lugar. Então a descreva para mim.
Achou estranho o
pedido, mas assim o fez:
- Bom, gosto muito do
chão da praça nessa época do ano, especialmente ali próximo da fonte com o Neturno
de Mármore – os dois Ipês foram cinematograficamente plantados um de cada lado
da fonte, de um lado o roxo, do outro, o amarelo; quando éramos crianças a
fonte parecia estar abraçando as árvores, tomando de conta, sabe?! Hoje as
árvores cresceram tanto que aprofundaram-se uma na outra por cima da fonte, é a
vez delas de tomar de conta da fonte - falou iluminando um sorriso puro e breve.
É nessa época que ambas florescem, já
notou como uma parece esperar pela outra para florescer?! Sempre juntas. Perfazem
um arco amarelo-roxo florido sobre a fonte. Fico observando cada flor que cai
lentamente na água... Não afundam logo, são nossos embarcações, o meu sempre
fora roxo. E você nuca quis o amarelo, então brigamos para ver quem era o
capitão de nossa purpura embarcação... – A voz foi definhando até que sumiu. Observa
os olhos do amigo silenciosamente tateando sua descrição – pois é... Essa é
nossa praça!
- Não amigo, essa é a praça sua.
Fabiano de
Andrade
12 de dezembro
de 2013