COMPLEXO
DE ÁLVARO
Cheguei
ao ponto de conhecer-me tão bem que digo apaixono-me só quando quero; afirmo conhecer-me
tão bem que conheço o outro, pois o outro que delatamos com tanta acuidade é
senão nós mesmos – como todo conselho
que ousamos dar: apenas espelho que se recicla; cheguei a tal conhecimento que sinto orgulho, medo e
pena de mim mesmo. Tornei-me tão senhor de mim mesmo ao ponto de ferir o outro
idoneamente, para lhe fazer bem maior; Ser consciente e entreter. Ser
consciente e manipular, e machucar o outro por achar que te pagava dívidas, enquanto
ninguém te deve nada! Enfim, machucar
por não saber sofrer. Tanta autoconsciência passei a possuir, que me escaparam
as fendas, onde perpassa sorrateira a vida, o não dito, o silêncio e o mistério,
que é penumbra. Estive tão consciente da minha consciência que foi impossível
olvidar, quando tudo, não o que queria, mas o que precisava, era esquecer.
Fosse
contar a história desse sabichão, começaria assim: Era uma vez um homem, dono
absoluto de todos seus sentimentos... que certo dia conheceu uma Carmen, de
véus e olhares que muito lembravam certa ópera...
Fabiano
de Andrade
26
de junho de 2012