
A GALINHA É O OVO
Deve-se confessar que está implícito que amor é amor e amizade é amizade senão, jamais perguntariam é “namoro ou amizade?”. Perdão; vejo que, sem querer, cometi a sutil indiscrição de confundir amor com namoro, mas senão houver amor dentro do namoro, qual é o sentido?!, ficaríamos só com o N e O, – e /NU/ só, não tem nem sentido nem graça. Porém, não consigo achar modo claro de combinar as letras da amizade para formar amor ou namoro. Na verdade, a dinâmica dessa estrutura é tão viva, que logo, pela claríssima luz, ocorre à cegueira. Vejamos este íntimo retículo cristalino passo a passo:
Passo primeiro: É necessário, antes de tudo, demarcar as fronteiras vindas da superfície do amor que o separa do terreno da amizade, e vice-versa. É inerente à amizade poder falar tudo e não ser prejulgado; nem sempre concordar, mas ser compreensível e compreensivo; não sofrer represália, pois aceita-se a condição humana de ter dúvida, ser inseguro; poder fazer confissões que não faria a mais ninguém; contar grandes segredos ou contar bobagens só por contar, ou não dizer nada e sentir que não se está calado, ser cúmplice e sentir-se conhecido pelo outro, não pensar que dizer uma mentira é, por enquanto, a melhor opção, mas sim falar a verdade, por mais cruel e repulsiva que seja; poder sorrir e sentir que o riso ecoa por não se estar só; poder chorar lágrimas de fel, mas sentir-se abraçado, pois com este amor se suporta o peso do mundo... digo, com esta amizade...
Passo segundo: derrapou-se na indistinção do primeiro passo.
Fabiano de Andrade
01 de março de 11