A GALINHA É O OVO
Deve-se confessar que está implícito que amor é amor e amizade é amizade senão, jamais perguntariam é “namoro ou amizade?”. Perdão; vejo que, sem querer, cometi a sutil indiscrição de confundir amor com namoro, mas senão houver amor dentro do namoro, qual é o sentido?!, ficaríamos só com o N e O, – e /NU/ só, não tem nem sentido nem graça. Porém, não consigo achar modo claro de combinar as letras da amizade para formar amor ou namoro. Na verdade, a dinâmica dessa estrutura é tão viva, que logo, pela claríssima luz, ocorre à cegueira. Vejamos este íntimo retículo cristalino passo a passo:
Passo primeiro: É necessário, antes de tudo, demarcar as fronteiras vindas da superfície do amor que o separa do terreno da amizade, e vice-versa. É inerente à amizade poder falar tudo e não ser prejulgado; nem sempre concordar, mas ser compreensível e compreensivo; não sofrer represália, pois aceita-se a condição humana de ter dúvida, ser inseguro; poder fazer confissões que não faria a mais ninguém; contar grandes segredos ou contar bobagens só por contar, ou não dizer nada e sentir que não se está calado, ser cúmplice e sentir-se conhecido pelo outro, não pensar que dizer uma mentira é, por enquanto, a melhor opção, mas sim falar a verdade, por mais cruel e repulsiva que seja; poder sorrir e sentir que o riso ecoa por não se estar só; poder chorar lágrimas de fel, mas sentir-se abraçado, pois com este amor se suporta o peso do mundo... digo, com esta amizade...
Passo segundo: derrapou-se na indistinção do primeiro passo.
Fabiano de Andrade
01 de março de 11
5 comentários:
Vi num filme uma personagem dizendo que só casava com outra pessoa se ela jurasse ser fiel, para ela fidelidade era ser sincero, mesmo se traisse sexualmente,ou quisesse se desfazer da relaçao contar sempe, não esconder, porque nada era mais deprimente e imperdoável que a infidelidade, acho que coincide com o teu pensamento. Acho que não existe tanta distinção entre amar e namorar pois há a zona de transição "o FICAR" e quanto a questão da amizade devo concordar com os gregos, ela é o tipo de amor mais forte que há, por isso mais difícil de achar. Eu acredito no amor e que a certeza de que o outro não é perfeito, de que devemos aceitar que ele errará deve está em nossas mentes para não criarmos ilusões ou expectativas demais.
O interessante é que, se prestarmos atenção (até à maioria dos verbos que vc usou no texto), o que queremos num namoro/numa amizade é FALAR. Tenho percebido que falar é fundamental numa relação, e que o poder das palavras é muito grande mesmo... pode ser bom e ruim, dependendo das palavras... :)
saudade!
pois é... fale agora ou cale-se para sempre! XD
Perdão por minha eterna indiscrição linguística mas penso que o modo de manuseio da ferramenta do poeta (literário), a palavra, é uma importante forma de manifestação artística, o seu caso não foge à regra. Achei super interessante a descoberta (pra mim é) da descamação (em Linguística nós chamamos de segmentação) da palavra namoro. Só quem está em um nível de observação alto como o seu é possível enxergar essa incrível coincidência (se é que é possível tratar dessa forma) que diz respeito às nuances semióticas dessa palavra, sonho dos solteiros, e dor de cabeça dos que nela vivem (os namorados). Por fim devo notar que levarei em consideração todas as suas dicas, que com certeza me ajudarão muito. Mais uma vez parabéns pelo texto. Crescerei feliz por um dia poder dizer que estudei com grandes nomes de nossa literatura, como Gladson e Renata...
"Achei super interessante a descoberta (pra mim é) da descamação (em Linguística nós chamamos de segmentação) da palavra namoro. Só quem está em um nível de observação alto como o seu é possível enxergar essa incrível coincidência"
adorei essa parte - ego. ^^'
> ellenka.
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Você acha isso mesmo?! Hum... interessante XD